Guxtaw Uyräsu

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quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Povo e língua Guanaré

A língua guanaré (ûanã em Nheengatu, "gwanare" na gramática proposta para o idioma) era um dialeto falado pelo povo de mesmo nome que habitava a região da mata de cocais entre os estados do Maranhão (área dos municípios de Caxias e Timon) e do Piauí (área dos municípios de União, leste de José de Freitas e norte de Teresina).

A língua guanaré pertence ao tronco linguístico tupi-guarani e faz parte da subfamília tembé (grupo linguístico mais predominante do Maranhão). Atualmente não possui falantes natos sendo considerada uma língua extinta.


Etimologia

O termo guanaré provem do tupi antigo e significa "Pintura corporal diferente" (de Guanan = tingimento corporal + sufixo qualitativo "" = diferente) porque, segundo relatos, costumavam pintar-se com a argila avermelhada além do tradicional urucum.


Distribuição geográfica

O território que os Guanaré percorriam e habitavam de modo itinerante a área que abrange os atuais municípios de Caxias do Maranhão e no Piauí, os municípios de União e José de Freitas. Do lado maranhense, faziam fronteira com o povo Aranhi ao norte e o povo Manayé ao sul e do lado piauiense, faziam fronteira com os Tacarijus ao norte e os Poti ao sul. As divisas territoriais com essas etnias impediam que esse grupo indígena fosse para mais além. Isso explica o modo de vida seminômade uma vez que só percorriam em uma área restrita apesar de bem extensa, algo em torno de 6.000 km². A extensão dessa área seguia uma inclinação de 47º tomando como base a rosa dos ventos, o que reforça um relato de que os Guanaré se direcionavam para os dois extremos desse território conforme o nascer do sol do início do inverno (21 de junho) e o pôr do sol do início do verão (21 de dezembro). Menções sobre os hábitos desse povo indicam que costumavam habitar as terras piauienses durante o período chuvoso e durante o período seco, restabeleciam morada nas terras maranhenses. Isso acontecia devido à disponibilidade de alimento que no Piauí é melhor entre o verão e o outono. Já nas estações do outono e primavera, as densas florestas maranhenses garantiam mais recursos. Assim como outros grupos tupis, os Guanaré recorriam ao chamado Tapejara para indicar as rotas que deviam ser seguidas em viagens através das matas. O tapejara é a rosa dos ventos dos tupis e indica a direção da morada de quatro divindades que sempre variam conforme a etnia. Para os Guanaré, assim como outros grupos da subfamília Tembé à qual faziam parte, o norte era a morada de Mair (Deus criador), Tupã (Deus violento das chuvas) vivia no leste, Yamandu (Deus guerreiro da luz) morava no sul e Jakairá (Deus benevolente da neblina e da fumaça) residia no rumo oeste. Os Guanaré migravam para um dos dois extremos do seu território durante os equinócios porque eram os melhores períodos para atravessar o rio Parnaíba. Ou seja, no solstício de dezembro os indivíduos já deveriam estar locados nas terras do Piauí e durante o solstício de junho, deveriam estar nas terras do Maranhão

Mapeamento dos territórios indígenas no Nordeste no ano de 1661

História

Durante meados do século XVII, os Guanaré foram perdendo seus territórios do lado piauiense de forma gradual por conta da expansão das fazendas de gado. Conflitos com os colonizadores obrigaram os indivíduos dessa etnia a viverem apenas do lado maranhense. Aqueles que decidiram permanecer no Piauí precisaram estabelecer moradas fixas e se assimilar à cultura e modo de vida dos invasores. Os Guanaré do lado maranhense também passaram a viver em moradias fixas, mas numa situação mais tranquila que no Piauí. Isso encerrou a cultura viajante desse povo. Os aldeamentos ficam espalhados principalmente pelo atual segundo distrito de Caxias, mas um deles se estabeleceu no extremo do território que era a margem direita do rio Itapecuru. Quando os jesuítas chegaram ao local, os Guanaré já haviam se mesclado a outros grupos como os Timbiras, Gamela, Uruatis e Guanasés. Nesse período, o nome do povo passou a ser o nome da localidade que atualmente é o centro da cidade de Caxias. 

Nos demais aldeamentos os traços da cultura Guanaré como hábitos e idioma formam se perdendo aos poucos após o contato com a doutrina cristã pregada pelos padres jesuítas em toda a região. Entretanto, o fim do uso da língua guanaré veio após a criação da Lei do Diretório de 3 de maio de 1757, instituída pelo Marquês de Pombal. Ela determinava a obrigatoriedade do uso da língua portuguesa ao mesmo tempo que garantia punição ao uso das línguas indígenas. Por conta do medo das punições, os Guanaré foram abandonando sua língua original ao mesmo tempo que os descendentes passaram a repudiar todo e qualquer traço indígena a ponto de considerar seus semelhantes não socializados como animais. Ser chamado de índio ainda é considerado uma ofensa para a maioria das pessoas na zona rural de Caxias.



Menções

A etnia Guanaré está enquadrada no grupo dos povos indígenas pouco documentados a ponto de serem considerados quase que um mito. O pouco que se sabe veio de relatos transmitidos oralmente, mencionados por exemplo nos textos históricos sobre as guerras no Maranhão durante o século XVIII motivadas pelo avanço da pecuária. Poemas narram que essa etnia era conhecida por ser extremamente 'belicosa', ou seja, criada para guerrear. Segundo o poeta Erasmo Shallkyttone no texto "GUANARÉS, uma nação que não consta na história", a etnia possuía oito mil guerreiros. Alguns defendem que a ferocidade desse povo é provada ao analisar a extensão territorial que percorriam que abrange dois municípios atuais do Maranhão e outros dois do Piauí. Mesmo que não permanecessem num único ponto, o fato de manterem uma área para caça e coleta com quase 6 mil quilômetros quadrados sem que sofressem com o avanço de outras etnias mostra o respeito que empunhavam.


A pintura corporal também é destacada nas menções sobre esse povo. Eles usavam o urucum, porém mais interessante que isso, também se pintavam com a argila extraída da terra vermelha conhecida como piçarra que é bem típica na região. Esse recurso inusitado garantia ao grupo o nome que se intitulavam: Pintura corporal diferente (Guanã = pintura corporal, -ré = diferente). O uso desse barro sobre o corpo era para deixar claro a conexão com a terra daquela região. Demonstrava a relação de pertencimento. Entretanto, não foi relatado o estilo de pintura, se era com formas abstratas, com detalhes, com temáticas religiosas ou significados de animais ou simplesmente se só passavam na pela de forma homogênea. Entretanto, há uma possibilidade da própria palavra já dar essa resposta uma vez que o contexto indica um tingimento uniforme.



Fonologia

O vocabulário Guanaré remanescente sofreu influência da língua portuguesa. Isso lhe rendeu a adição de sons consonantais que não existiam nas línguas de tronco tupi como F, L e Z. O dialeto possui 8 vogais que somando suas versões fechadas e nasais contam 19 sons vocálicos: A, Â, Ã, É, Ê, Ẽ, I, Ĩ, Ó, Ô, Õ, U, Ũ, Ʉ, Ʉn, Ɨ, Ɨn, Œ e Œn.

Dentre as vogais principais é notável a presença de três vogais médias: Y, W e Ø. A letra W, aqui entendida como vogal, soa um /u/ com a boca bem cerrada (posição de /i/). A letra Y também é classificada como vogal e soa um /i/ falado para dentro com a boca na posição de ó/. Ø soa /ê/ com a boca em posição de /ó/ (mesmo ö do alemão). Nas demais línguas de tronco tupi, as gramáticas propostas por não falantes, que consequentemente não estão familiarizados com a diferença entre esses sons, costumam classificar o fonema /w/ como /y/. Da mesma forma o /ø/ é entendido como uma falha de dicção das vogais /ê/ e /ô/. Na gramática instituída para a língua guanaré, elas recebem essa diferenciação sustentada pela chamada "Aranduva" (Ciência do mundo). 

É importante ressaltar que a influência dos jesuítas transformou um pouco a língua guanaré durante o período de catequese. Os religiosos usavam o nheengatu para pregar a palavra de Deus. Mesmo que esse idioma seja do mesmo tronco linguístico, fatores como pronúncia e termos dialéticos eram próprios de outra cultura. O ensino do português também trouxe mudanças significativas como a assimilação dos fonemas /F/, /L/ e /Z/. Como a dialética antiga não chegou a ser catalogada e o que temos hoje é uma readaptação que se apoia na construção sustentada pelo pouco que restou do conhecimento antigo, o dialeto guanaré é por vezes chamado de "tupyjó"(procedente do tupi). Termo que caracteriza qualquer dialeto que foi alterado pela influência do nheengatu. 

Desse modo, o alfabeto Guanaré/Tupyjó possui 27 letras.

A 

B (ba / mba).

C (tsa). 

D (da / nda). 

E (é). 

F (fa)*. 

G (ga). 

H (ha) aspirado como no inglês 

I 

J (ja / dja). 

K (ka). 

L (la)*. 

M (ma). 

N (na). 

O (ó). 

P (pa). 

Q (quá). 

R (ra). pronúncia vibrante 

S (sa). 

T (ta). 

U (u). 

V (va). Som assoprado entre B e V 

W [ʉ]. Som de U com boca cerrada. 

Em encontros vocálicos, é semivogal. 

X (xa). 

Y [ɨ]. som de I pronunciado para dentro 

Em encontros vocálicos, é semivogal. 

Z (za)*. 

Ø [œ](ö alemão) boca na posição de O 

com som de Ê. 

DÍGRAFOS E DIACRÍTICOS 

Ch. Sonoriza ‘tch’ como na palavra 

“tchau”.  

 

Æ. É uma pronúncia rápida entre “A” e “E” 

podendo ser um som aberto ou fechado. 

Não é uma letra independente e sim um 

dígrafo:

Paka (paca) > Pakætá (pacas)

 

Ñ. Corresponde ao nosso NH. É usado no 

final de radicais verbais como no verbo 

møñeng” (fazer) cujo o radical é “møñ”. Para 

som de NH no início ou no dentro da 

palavra, usa-se o Ny- com uma outra vogal: 

Mokanyimbeng, Nyëng, nyangava 

 

Trema: Usado de forma interna entre os falantes e indica bissoriadade com quebra.

Ä = a’á 

Ë = e’é 

Ï = i’í 

Ö = o’ó 

Ü = u’ú 

Ÿ = y’ý

 

Circunflexo: Todas as palavras 

oxítonas de som fechado são acentuadas: 

Nyê – A fala. 

Pygoâ – O tornozelo.

 

Acento agudo: Mais comum sobre a vogal A nas oxítonas. As demais vogais (exceto W e Y em encontros vocálicos) são tónicas. 

 

Pronomes pessoais

Pronomes 

Pronomes anexos 

Ase [assé] - Traduz-se por A gente, porém é usado em caso oblíquo, onde não se especifica o falante. 

Taoba ase obibik (roupas a gente costura*) - Costura-se roupas 

Sig – Traduz-se como Todos. 

Sig itemb sawsu (todos precisam de amor)  

Sig atemb sawsu (todos precisamos de amor) 

Xe –  Eu 

De – Tu / você 

Ae – Isto, ele, ela (pronome neutro)* 

Øi – Ele / Oi – Ela (neologias exclusivas do dialeto) 

Jande – Nós (eu, vocês e eles) 

Ore – Nós (eu e ele(s) sem você(s)) 

Pende – Vós / vocês 

Wi – Eles, elas 

Conjugação verbal

Tal qual os demais idiomas do tronco tupi, a conjugação verbal guanaré também é feita com o auxílio de prefixos nos redicais verbais onde o "A" se refere à 1ª pessoa (singular ou plural), "E" (som aberto É) é relativo à 2ª pessoa (singular ou plural), "O" (som aberto Ó) refere apenas à 3ª pessoa do singular e "I" indica a 3ª pessoa do plural.

Xe aiko

[xé a-ikó]

eu sou, eu estou


De eiko

[dé é-ikó]

tu és (você é), tu estás (você está)


Ae oiko

[a-é ó-ikó]

(alguma coisa/alguém) é/está


Øi oiko

[œ-í ó-ikó]

ele é/está


Oi oiko

[ó-í ó-ikó]

ela é/está


Or’oiko

[ôr-ó-ikó]

A gente é (nós exclusivo)


J’aiko

[dja-ikó]

nós somos


P’eiko

[œ-í ó-ikó]

vós sois, vocês são


W’iiko

[-ikó]

eles, elas são/estão


Nyeeng - falar 

Karuung - comer (alimentos sólidos) 

Soong - ir 

Xe anye (eu falo) 

De enye (você fala) 

Ae onye (isto/ela/ele fala) 

J’anye (nós falamos) 

Or’onye (a gente fala) 

P’enye (vocês falam) 

Wi inye (eles falam) 

Xe akaru (eu como) 

De ekaru (você come) 

Ae okaru (isto/ela/ele come) 

J’akaru(nós comemos) 

Or’okaru (a gente come) 

P’ekaru (vocês comem) 

Wi ikaru (eles comem) 

Xe aso (eu vou) 

De eso (você vai) 

Ae oso (isto/ela/ele vai) 

J’aso (nós vamos) 

Or’oso (a gente vai) 

P’eso (vocês vão) 

Wi iso (eles vão) 

Caso reflexivo 

Faz-se com a partícula JØ que toma o prefixo pronominal do verbo. 

  sawsuung

[djœ saussu-ũg]

Amar-se 

noyneng

[djœ nõinẽg]

Chamar-se, nomear-se

Xe ajø sawsueu me amo. 

De ejø sawsuvocê se ama. 

Ae ojø sawsuela/ele se ama/ ama a si próprio. 

J’ajø sawsunós nos amamos. 

Or’ojø sawsua gente se ama. 

P’ejø sawsu - vocês se amam. 

Wi ijø sawsu eles se amam. 

Xe ajø noyneu me chamo 

De ejø noyntu te chamas 

Ae ojø nonyele/ela se chama 

J'ajø noynnós nos chamamos 

Or'ojø noyna gente se chamam 

P'ejø noynvocês se chamam 

Wi idjø noyneles se chamam 


Breve vocabulário

Abá – Gente, pessoa, humano.

Aju [adjú]– Cor amarela.

Ajuba [adjúba]– Amarelado.

Amana – Nuvem, chuva.

Angyja [anguɨdja]– Camundongo, rato pequeno.

Aondê – Coruja.

Apigá – Homem.

Ara – Tempo.

Ará – Periquito.

Aræ [araÉ] – Tempo contado (horas, minutos, dias, meses).

Bety [êvetɨ]– Vento.

Boy [bôi]– Cobra, serpente.

Bwriti [bʉri]– Buriti.

Cegi [tsêguí]– Lombriga.

Çuindara [tsu-indara]– Coruja de igreja, rasga-mortalha.

Eira [ê-ira]– Abelha.

Evety [êvetɨ]– Vento.

Girá [guirá]– Pássaro.

Gwabiru [guabirú]– Ratazana, rato grande.

Gwasu [guassú]– Grande.

Gwaynumbi [guainumbí]– Beija-flor, colibri.

Itá – Pedra.

Jagwarete [djaguareté]– Onça.

Jasy [djassɨ]– Lua.

Juru [djurú]– Boca.

Kaarukatu – Boa tarde.

Katu – Bom, boa.

Katuara – Outono.

Koara – Dia.

Koarasy [ko-arassɨ]– Sol.

Koengatu – Bom dia.

Kombaye [kôbaié]– Cão doméstico, cachorro.

Kunyan [kunhã]– Mulher.

Kunyatan [kunhatã]– Menina.

Kunumin – Menino.

Kerobi [kerobí]– Cor verde.

Keroby [kerobɨ]Esverdeado.

Ky [kɨ]– Cor verde-limão.

Kyry [kɨrɨ]– Esverdeado-claro.

Mair [ma-ír]– Deus.

Maira [ma-íra]– Semideus.

Manyu [manhú]– Chuva.

Mirin [mirín]– Pequeno(a).

Mutin [mitín]– Primavera.

Møru [mœrú]– Mosca.

Nyará [nhará]– Inverno.

Oka – Casa, abrigo.

Obi – Cor azul celeste.

Oby – Azulado.

Panaman [panamã]– Libélula.

Panambi – Borboleta.

Paragwá [paraguá]– Papagaio.

Pará – Mar.

Paraná – Rio.

Peurê – Verão.

Pikui [piku-í]– Rolinha.

Pira – Pele.

Pirá – Peixe.

Pytan [pɨtã]– Cor vermelho-telha.

Pytanga [pɨtanga]– avermelhado-telha.

Pitungatu – Boa noite.

Pixana – Gato doméstico.

Poranga – Bonita, bonito.

Poxy [poxɨ]– Feia, feio.

Qwandu [quandú]– Porco-espinho, ouriço.

Sayura [saiúra]– Ajuda, auxílio.

Sayureng [saiurẽg]– Ajudar, auxiliar.

Suasu [su-assú]– Cervo, veado.

Taba – Aldeia.

Tatá – Fogo.

Toriba – Festa.

Uruku [urukú]– Cor vermelho escarlate.

Wambá – Casa, morada, moradia, lar.

Wg [ʉ:]– Água.

Yamy [iamɨ]– Noite.

Yba [ɨba]– Madeira, pau.

Ybirá [ɨbirá]– Árvore.

Yby [ɨbɨ]– Terra, chão, solo.

Yndajá [ɨndadjá]– Coqueiro.

Yra [ɨra]– Mel.

Ywaka [ɨuáka]– Céu.

Øtama [œtâma]– Território.


Ciência antiga

A sabedoria do mundo ensinada pelos curandeiros guanaré ficou oculta em torno de dois séculos por conta do medo da perseguição religiosa e do preconceito social além do próprio sistema dogmático o qual ensinava que todo conhecimento sagrado deveria ser mantido com os indivíduos do próprio povo. Os detentores desse conhecimento eram os pajés, também chamados de curandeiros ou feiticeiros na língua portuguesa. A geração posterior a eles, já dentro do contexto sociocultural imposto pela colonização portuguesa, passaram a ser chamados de "cientistas" para evitar possíveis aversões e preconceitos. O termo surgiu por conta da própria tradução da palavra Aranduva que é a ciência do tempo e do mundo. Os "cientistas" guardaram e repassaram a aranduva a alguns descendentes na esperança de manter o pouco que lhes restava de tradição dos antepassados.  

Nesse conhecimento antigo, entende-se que cada vogal é o som emitido por determinado elemento da natureza: 

A – som emitido pela alma ou espírito e pelos sentimentos (para os indígenas, os sentimentos são emanações da alma). 

E – som emitido pelo ar, pelo vento. 

I – som emitido pelo brilho da luz. 

O – som emitido pelo fogo, pelas chamas. 

U – som emitido pela escuridão. 

W – som emitido pela água. 

Y – som emitido pela terra, pelo chão. 

Ø – som emitido pelo trovão, pelo raio, pela eletricidade. 

Essa lógica rege o entendimento das palavras na língua guanaré e a torna diferente do Nheengatu que não considera a diferença de valores entre os sons /y/ e /w/. A diferença entre esses fonemas é tão tênue que é compreensível que os não falantes não consigam distingui-los. Isso se refletiu na escrita propostas pelos jesuítas e replicada pelos atuais tupinólogos. Ou seja, enquanto no nheengatu o nome da canoa é grafado como ygara, em guanaré é grafada como wgara, pois a vogal /w/ indica a ligação desse objeto com a água. O mesmo ocorre com ygasava > wgasava (pote) e ygûará > wgwará (garça). O mesmo não ocorre com as palavras ybirá (árvore), yndajá (coqueiro) e yby (terra, chão) justamente porque o fonema /y/ indica essa conexão com o solo. o fonema /ø/ (mesmo som emitido pelo ö alemão) foi desconsiderado porque os não falantes entenderam se tratar de uma falha na dicção em tentar pronuncias /ê/ ou /ô/, como uma certa preguiça para falar com a boca mais aberta. Entretanto, a Aranduva ensina que esse som é autônomo.

Nota do Editor: Se você é descende dessa etnia, digite nos comentários algo que não tenha sido relatado no texto. Sua contribuição pode enriquecer os estudos sobre esse povo.